terça-feira, 15 de novembro de 2011

A mulher de quase 30

Ah, mulher de 30! A idade do sucesso! XD

Juro que se fosse físicamente possível eu condensaria palavras e as enfiaria goela abaixo de quem as pronuncia. Não pelo teor pejorativo, ou até mesmo auspicioso que a expressão acima evoca. Mais talvez pela "cruz" que somos obrigadas a carregar quando a conjunção desse numeral+adjetivo (neste caso praticamente um substantivo) começa a despontar no horizonte dessa vida...

Para começo de conversa, que atire a primeira pedra quem pode afirmar que a "mulher de 30 anos" é realmente uma "mulher". Aliás, acho que é de domínio público que a quantidade de anos vividos em nada interferem no nosso amadurecimento psico/emocional/social. E quem aí pode definir de maneira concisa e sensata o que é sucesso? Marido, carreira, filhos, dinheiro?

Sou de uma geração impossível de ser classificada pelas últimas letras do alfabeto. E nem é uma geração propriamente dita, é praticamente um "gueto". Nascemos em mil novessentos e oitenta e poucos, crescemos imitando as mulheres adolescentes ridículamente independentes X, mas por alguma razão misteriosa fomos incapazes de seguir seus passos. Na hora do approuch saimos da quadra, voltamos para a casa da mamãe e fomos jogar playstation com os amiguinhos mimados/revoltados Y, dando início àquela que pode ser considerada como a "adolescência mais longa da história da humanidade" compreendida entre os 11 e os 29 anos.

Mas agora já tenho quase 30. JÁ SOU UMA MULHER DE 30. Lembro que quando pequena olhava para uma mulher "adulta" e via: casa, marido, crianças e rugas. Família, trabalho, gordura e dívidas. Não tenho nenhuma lembrança risonha de uma mulher mais velha. Acho que por isso desenvolvi uma repulsa a todo o esteriótipo de vidinha margarina Doriana. Tive uma ótima educação voltada para encontrar o tal "sucesso" por meio da concretização dos meus objetivos profissionais. Mas o tempo passava, a vida vivia, e o tal do sucesso não vinha. Por alguns anos juro que cheguei a pensar que o sucesso estava escondido na mochila de alguma barba mal feita, e eu tinha a certeza que no momento que ela se ajoelhasse choveriam estrelinhas prateadas e o tal sucesso aconteceria (surprise!). Parece que está encravado em nossas entranhas que a donzela precisa de um príncipe para obter tal êxito. (ou, pelo menos, mostrar para o resto da plebe que ela teve sucesso, não é mais uma entre as fracassadas)

Fracassadas, rs. Fazendo um balanço geral, a maioria das mulheres do meu "gueto" (menos eu Iuhuuuu) ainda mora com os pais. Ainda estão esperando o principe coxinha vir buscá-las com seu reluzente Honda City. Só que esqueceram de avisá-las que eles também decidiram esticar a adolescência um pouquinho mais. Algumas até deram a "sorte' (?) de se casar. Sim, sorte, porque casamento para mulher é como um Ritual de passagem. Sabe aquelas tribos africanas que se estouram num bungee jump improvisado? Ou que usam uma luva cheia de formigas? Ou que arrancam os clitoris? Então, para a mulher o sim no vestido branco é como acenar ao mundo e dizer: "- Olá mundo, agora eu tenho um homem e uma cozinha só minha. Agora eu tenho sucesso". É casando que a menina se torna mulher.

E as que ficaram aqui do lado de fora, o que elas são? Elas que cresceram, estudaram, viajaram, se divertiram, se apaixonaram, sofreram, choraram... Elas que vão para o trabalho todos os dias imaginando quando finalmente ganharão mais dinheiro ou farão algo que realmente as façam feliz... Elas que tiveram que aprender a conviver com uma enxurrada de tecnologias desnecessariamente necessárias e desenvolver (e manter!) uma vida extra-corpórea diferente da qual já estava fadada... Elas que tem 550 amigos, passam as tardes de sábado estudando para a pós (ou para as aulas de voo \o/) e as manhãs de sexta reclamando do happy-hour da tarde do dia anterior (nosso corpo já não é mais o mesmo...). Elas que começam a perceber as marquinhas, e machinhas, e ruguinhas, e quilinhos ganhos do nada que não querem ir embora nunca mais... Elas que ainda tem tantos planos, que ano que vem juram que vão mesmo fazer o mochilão na Europa, elas que se empetecam horrores para talvez encontrar "ele" naquela balada, elas que dormem e acordam e dormem e acordam... O que elas são?

 ...

Meninas.

Meninas de 30

E  posso afirmar, do alto do meu pedestal de uma mulher de quase 30 que eu não passo de uma menina.


Uma menina de 30.


Feliz Aniversário para nós!!!




Meninas de 30, quarta, 23/11. Especialmente para vc Zizi.












segunda-feira, 7 de novembro de 2011

"A caixa dos segredos entalhados" e o "manual de como viver no amanhã"

Dias atrás retornei à casa de minha mãe para finalmente levar aqueles que seriam os últimos resquícios de minha passagem por aquele lar. Livros, papéis, fotos, brinquedos, encravados em uma estante de um porão que eu quase nunca visitei. Livros que eu nunca li. De todos os presentes que recebi, de todas as faculdades que frequentei, de todos os filmes que assisti. Fotos que "revelavam" um passado aparentemente feliz. Familia, conquistas, festinhas, viagens. Pessoas que foram, pessoas que chegaram, as que ainda estão por aqui e as que retornaram, muitas graças a existência desta "realidade virtual" que aparendi conviver. Sentada no chão, em meio àquele revirado de lembranças impressas, deparei-me com uma caixa.

"A Caixa". É engraçado que todo mundo possui um exemplar da bendita, mas ninguém fala a respeito. É o lugar mais secreto e profundo que uma pessoa possui fora do corpo. É ali que está guardado tudo o que já foi (ou será) importante em sua existência. Cartas de amores passados, tikets de viagens, guardanapos com corações, cartões de aniversário, mapas e itinerários, documentos vencidos, discursos para a cerimônia de entrega do oscar, sapatinhos de recém-nascidos, fotos e fotos e fotos... lembranças daquilo que aconteceu (ou queríamos que acontecesse) que, de alguma forma, pretendemos guardar para a posteridade. Como um troféu. Ou como um atalho...

Revirando a tal caixa encontrei um manuscrito, quase como um "plano de voo", elaborado exatamente há13 anos atrás. Colégio (o tal "ensino médio") concluído, jornalismo excluído (como assim você não vai fazer faculdade?Ah, Lila querida, por que diabos eu não te ouvi mesmo?), brilhante idéia de perseguir o sonho que me atormenta desde que eu me conheço por gente. Primeira aula de teatro: Elaborem um documento que contenha elementos de quem você é e o que você pretende para o futuro.

Futuro... palavra engraçada. O futuro aos 18 anos é uma página completamente em branco. Que eu redigi, com toda a fé e esperança que acompanha a idade. DRT aos 21, cinema aos 23, casada aos 25. Filhos? Só quando eu for velha, com 28 e olhe lá!!! Vida cronometrada, felicidade encomendada. Guardei a lição-de-casa e fui viver a vida que Deus me deu...

Hoje sou incapaz de precisar em que ponto o roteiro desandou. Ou mesmo os motivos que fizeram o certo não dar certo. Pensando bem, acho que ninguém nos prepara para o que realmente o futuro nos reserva. Acho que deveriam distribuir, ainda na mais tenra idade, um manual de "Como viver o amanhã". Manual que certamente deveria ser composto por capítulos como: "como não sucumbir as adversidades", "sabendo ouvir não", "aceitando a sociedade como ela é", "príncipes encantados não existem", "nada cai do céu", "você tem que trabalhar muito para conseguir o que deseja", "idéias malucas as vezes compensam","amigos são a família que lhe dará suporte na vida", "não tenha medo de arriscar", "o tempo passa muito rápido", "fazendo sua felicidade depender apenas de você" e, finalmente, mas não menos importante, "aconteça o que acontecer, nunca desista dos seus sonhos". Porque os sonhos sempre te perseguirão. E o sentimento de fracasso, acoplado à revolta de "não dar mais tempo", também.

Hoje eu penso no futuro de uma maneira presente. Não faço mais planos. E tento viver cada dia como se fosse o último. Aceitei que o amanhã é inalcançável, sempre dependerá do "hoje" para acontecer. Como qualquer pessoa, não teria dúvidas de encarar uma "máquina do tempo" para corrigir minha proa. Mas aceito e me orgulho de tudo o que conquistei. Por mais que estas conquistas nunca estivessem previstas no "plano de vôo"

A caixa agora possui outro endereço. Mas sei que os segredos ali contidos nunca sairão do meu coração.






Pensando como uma aviadora, talvez o vento de través derivou minha rota e no momento estou meio que desorientada. Talvez saiba o nível, a velocidade e até que estou rumo aos 3.0. Mas não faço idéia de que ponto estou nesta "carta da vida".

Mas isso é assunto para o próximo post...


"O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens..."
                
                                             (Renato russo)